ACT – Terapia de Aceitação e Compromisso

Em direção a uma vida que vale a pena ser vivida.
Terapia de Aceitação e Compromisso - ACT
Trata-se de uma terapia da família das terapias cognitivo-comportamentais e foi desenvolvida por Steven Hayes e colaboradores, a partir de 1999. Ela se filia ao grupo das terapias cognitivas de terceira onda, junto com a DBT (Terapia Dialético Comportamental) e a FAP (Psicoterapia Analítica Funcional), entre outras.
A ACT recebe esse nome por se focar em 3 áreas:
- Aceitação da realidade, procurando melhorar como lidamos com o sofrimento e a dor;
- Escolha de uma direção a seguir, que esteja de acordo com nossos valores e;
- Comprometimento com a mudança desejada.
Mas quais são esses valores?
A pergunta nem sempre tem uma resposta fácil e isso acontece porque,
- 1) em nossa vida, quase nunca nos perguntamos sobre nossos valores, como se eles fossem óbvios e claramente percebidos por nós e
- 2) porque eles vão mudando ligeiramente ao longo da vida e essa mudança nem sempre é clara para nós mesmos!
A ACT procura nos ajudar a descobrir
- quais são esses valores,
- como eles vão mudando,
- como eles se traduzem em objetivos e metas e
- como eles podem nos guiar pela vida preenchendo nosso fazer com mais significado e plenitude.
A ACT se baseia em estratégias de aceitação, atenção plena (mindfulness) e comprometimento (veja mais detalhes abaixo), a fim de aumentar nossa flexibilidade psicológica. Com maior flexibilidade psicológica, fica mais fácil mudar nosso comportamento, caminhando em direção a uma vida que nos aproxime de nossos valores e, portanto, de uma vida mais significativa.
A todo momento podemos parar e refletir se o que estamos fazendo nos levam em direção a nossos valores ou se o que estamos fazendo nos afasta deles. “Isso que pretendo fazer, me aproxima de meus valores?” é uma pergunta simples, mas bastante poderosa.
São eles:
- Aceitação
- Desfusão cognitiva
- Contato com o presente
- Eu-Observador
- Valores
- Compromisso
Aceitação é o movimento oposto ao da evitação, que é a tendência em evitar situações que acreditamos que irão nos causar desconforto psicológico. Esse desconforto se manifesta como pensamentos negativos que nos levam a comportamentos que nos afastam de nossos valores. A evitação traz alívio imediato, pelo adiamento da situação, mas logo a tensão e o desconforto aumentam, pois a situação não foi resolvida.
Com relação aos pensamentos e emoções, a tentativa de evitá-los só os fortalece, pois o corpo tende a percebê-los como mobilizadores importantes e o que é importante tende a ser mantido! A questão, então, não é procurar evitar esses pensamentos e emoções, mas, sim, mudar a forma de se relacionar com eles. Os exercícios de observação e descrição da “atenção plena” são fundamentais para ajudar nesse processo!
Desfundir-se é abrir uma certa distância para perceber que os pensamentos e emoções, embora muito úteis e válidos, não significam, efetivamente, o que acontece. Abrir essa distância é permitir que outras possibilidades apareçam e, com elas, outras formas de agir e de se entender.
Por exemplo, ao invés de se fundir com o pensamento “eu sou um fracassado”, podemos caminhar para uma descrição que possibilite maior abertura a novas formas de pensar: “nesse momento, está muito presente na minha cabeça o pensamento de que sou um fracassado”.
Uma das formas de lidar com a ansiedade, por exemplo, é chamada de “aterramento (grounding)”, que nada mais é do que ampliar a percepção do aqui-e-agora. Esse exercício tende a cortar o pensamento acelerado que nossa cabeça faz ao entrar no processo ansioso.
Mas, no dia-a-dia, temos a tendência de nos percebermos como muito estáveis, agindo sempre da mesma forma, pensando do mesmo jeito. Podemos até estar muito acostumados a determinadas formas de agir, o que aumenta a percepção de um Eu-Cristalizado, que é sempre o mesmo em todas as situações.
Uma descrição do Eu-Cristalizado, endurecido, muito essencialista, “sou muito irritado”, por exemplo, pode ir se modificando para uma descrição mais processual: “em situações de grande incômodo, minha forma familiar de reagir é com irritação”. Se fomos agressivos em uma situação, isso não quer dizer que somos e seremos agressivos o tempo todo ou que nossa “índole” seja agressiva. À medida em que vamos percebendo o Eu como algo que observa a si próprio e observa o corpo no qual está, podemos ir percebendo melhor as váriações possíveis na forma de pensar, sentir e, portanto, agir que esse Eu pode realizar.
Os valores são de caráter mais subjetivo e, em geral, se tornam concretos através dos objetivos, que são os valores traduzidos em ações mensuráveis, com metas claras. Por exemplo, realizar-se através de uma vida afetiva plena pode ser um valor muito importante para alguns. Podemos nos perguntar: mas quem não quer isso? Aqui entra um importante aspecto dos valores: a diferença não está tanto em um valor ser ou não significativo para uma determinada pessoa, mas, sim, o quão significativo ele é para aquela pessoa em específico. Para alguns, em algum momento da vida, a realização profissional pode fazer mais sentido, enquanto para outras, a realização afetiva pode fazer mais sentido. Além disso, os valores podem ter maior ou menor intensidade ao longo das diferentes etapas da vida.
A correria do dia-a-dia pode nos convidar a pegar atalhos e, no caminho, não dar tanta atenção aos nossos valores, nos fazendo nos afastar deles ao longo da vida. Aqui, então, entra a ideia de “compromisso” que é a ideia de fazer o que for preciso, ainda que não seja fácil ou agradável, para nos mantermos no caminho de nossos valores, não saindo de nossa trajetória em viver uma vida que valha a pena ser vivida.
Quanto melhor praticarmos a aceitação do que se passa, quanto mais clareza tivermos de nossos valores, maior será nosso comprometimento com o que precisa ser feito para obter as mudanças desejadas, que nos levarão a viver em maior plenitude nossos valores.
Não é simples, não é mágico, mas é possível e até mesmo prazeroso, quando nos aproximamos de viver próximo dos valores que queremos para nossas vidas.
No entanto, a ACt não beneficia só quem tem algum diagnóstico de transtorno. Pessoas que estão passando por qualquer tipo de problema emocional podem ter bons resultados com a terapia.
Na primeira sessão, o terapeuta irá pedir uma breve história de vida do paciente, bem como a queixa principal e as expectativas que o cliente tem em relação ao trabalho conjunto. Depois, o terapeuta abordará alguns princípios da ACT, entre elas, a ideia da horizontalidade, que significa que tanto o terapeuta quanto o cliente tem poderes e responsabilidades semelhantes no andamento da conversa em sessão. Ambos podem pedir que a covnersa vá mais para essa ou aquela direção. O cliente é o maior especilista em si e no que viveu, enquanto o terapeuta é o especialista que deve estar atento aos processos conversacionais que vão ocorrendo, ou seja, em como a conversa está se dando. Ambos podem ir, de tempos em tempos, avaliando e discutindo juntos como sentem que está caminhando o processo terapêutico
Nas sessões seguintes, o terapeuta poderá ensinar técnicas de mindfulness e aceitação e ajudar na identificação dos valores do cliente. Eventualmente, o terapeuta e o cliente podem combinar um trabalho a ser feito entre as sessões, como anotar pensamentos e emoções ou praticar mindfulness em vários momentos do dia.